quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Falam os cientistas sobre a cura pela cirurgia. VALE A PENA LER ATÉ O FIM.

O texto abaixo foi extraído do portal da SBD e relata a comprovação científica da cura pela cirurgia. Note-se que este texto foi publicado mais de um ano antes (10/08/2006) da matéria da Veja (31/10/2007) que a mesma SBD chamou de senscionalista.

Mecanismos de Recuperação ou “Cura” do Diabetes Tipo 2 Após Cirurgia Bariátrica
De Rodrigo Lamounier, Filadélfia, Estados Unidos - 10/08/2006
Mechanisms of Recovery From Type 2 Diabetes Afeter Malabsortive Bariatric SurgeryGuidone C, Manco M, Valera-Mora E, Iaconelli A, Gniuli D, Mari A, Nanni G, Castagneto M, Calvani M, Mingrone G.Diabetes 2006;55:2025-2031.

Vários trabalhos têm sido publicados na literatura médica mostrando a resolução do diabetes mellitus tipo 2 (DM2), como um benefício adicional do tratamento cirúrgico da obesidade mórbida (grau 3). Um estudo sueco, por exemplo, comparou mais 1600 pacientes obesos, em que um braço do estudo foi tratado com cirurgia e outro com tratamento convencional.
A incidência de diabetes após 2 anos de acompanhamento no grupo operado foi de 0%, enquanto 16% dos pacientes acompanhados de maneira conservadora receberam o diagnóstico de diabetes. Alguns estudos têm mostrado que alguns fatores aumentam a chance de remissão da doença, como a presença diabetes mais “leve”, ou seja, com níveis de HbA1c mais próximos do desejável, além de diagnóstico recente. Uma revisão recente da literatura médica mostra que a taxa de resolução do diabetes após a cirurgia nas diversas casuísticas varia também de acordo com a técnica cirúrgica empregada, desde 98% na derivação bílio-pancreática, para cerca de 80% no bypass gástrico e caindo para cerca de 40% com a técnica da banda gástrica.
Importante salientar que na maioria dos indivíduos, a melhora do controle glicêmico precede a perda de peso significativa freqüentemente observada, sugerindo, assim, outros mecanismos relacionados, provavelmente diretamente ligados à cirurgia em si e não à perda de peso.
A fim de avaliar prospectivamente a fisiopatologia deste processo, este trabalho, publicado no Diabetes, revista de grande impacto científico, acompanhou 10 indivíduos obesos diabéticos submetidos à cirurgia imediatamente antes, 1 e 4 semanas após o procedimento. A sensibilidade insulínica foi avaliada pelo clamp euglicêmico-hiperinsulinêmico (técnica padrão-ouro para este tipo de avaliação) e a secreção de insulínica foi avaliada pela dosagem de peptídeo C, após teste de sobrecarga à glicose, tendo sido avaliados ainda os níveis de incretinas circulantes além de adipocitoquinas. Todos os pacientes foram submetidos à técnica de derivação bílio-pancreática.
RESULTADOS: Após 1 semana de cirurgia a perda de peso média de 6,04 ± 1,27kg não foi significativa, sendo que após 4 semanas a perda esteve no limite da estatística (-15,5 ± 2,28kg; p=0,051). Em ambos os períodos, aproximadamente 70% da perda de peso ocorreu às custas de massa gorda. Reversão plena do diabetes ocorreu em todos os pacientes em ambas avaliações, após 1 e 4 semanas do procedimento, com os pacientes apresentando glicemia de jejum (GJ) e 2h após teste oral de tolerância à glicose (TOTG) dentro da faixa de normalidade.
O decréscimo na glicemia foi estatisticamente significativo nas duas ocasiões em relação ao pré-operatório. Após 1 semana, os níveis de GJ, leptina, polipeptídeo gastrointestinal (GIP) diminuíram, enquanto aumentaram os níveis de Glucagon-like peptide 1 (GLP-1). Os níveis de adiponectina não se alteraram.Após 4 semanas os níveis séricos de insulina e peptídeo C estavam bem menores, enquanto GIP e GLP-1 mantiveram-se estáveis.
A sensibilidade insulínica avaliada pelo clamp melhorou significativamente após 1 semana, tendo sido necessário a infusão do dobro de glicose para a mesma quantidade de insulina a fim de manter glicemia constante (clamp), demonstrando assim a melhora na sensibilidade à insulina. Estes níveis se mantiveram estáveis após 4 semanas em níveis inclusive melhores do que alguns relatos com indivíduos magros saudáveis.O total de insulina secretado diminuiu, mas considerando-se a melhora na sensibilidade à insulina, a inclinação da curva obtida por esta análise mostra uma melhora na sensibilidade da célula beta em responder à determinada variação na glicemia.

Em resumo, as principais Conclusões do trabalho são que precocemente após a cirurgia (até 4 semanas), quando a variação no peso é ainda discreta, foi observado o seguinte:1) reversão completa de diabetes prévio francamente manifesto;2) Normalização da captação de glicose mediada pela insulina (melhora da resistência insulínica);3) Melhora na sensibilidade da célula beta em secretar insulina em resposta à glicose;4) Diminuição do GIP np jejum e após TOTG;5) Melhora do GLP-1 tanto no jejum como após TOTG;6) Diminuição dos níveis de leptina, tanto no jejum como após TOTG.A cirurgia de derivação bílio-pancreática pode, portanto, afetar o eixo êntero-insular deslocando alimentos do trato GI proximal e levando alimentos parcialmente digeridos até o íleo, o que poderia ser o determinante para o aumento na secreção de GLP-1 provável co-responsável pela melhora na resposta pancreática às variações glicêmicas.
Leia mais sobre este assunto:NEJM 2004;350(11):1075-79.MJA 2005;183(6):310-314.

Observação para os leitores (feita pela SBD):

A cirurgia bariátrica é um procedimento que pode realmente proporcionar grandes benefícios para o paciente com obesidade grau 3, especialmente aquele com co-morbidades, como o diabetes tipo 2. Entretanto, deve-se ter em mente que trata-se de procedimento cirúrgico de grande porte e que, portanto, incorre também em riscos.
Há que se abordar o assunto com seriedade e responsabilidade.Os bons resultados relatados são motivos de alegria, mas deve-se conter a euforia e manter a responsabilidade sempre antes de indicar um procedimento cirúrgico deste porte. E isso, é claro, só pode ser feito com avaliação e acompanhamento do paciente antes, durante e após a cirurgia por uma equipe multi-profissional que inclua o endocrinologista, o cirurgião, a nutricionista e acompanhamento psicológico.
Em julho de 2006 o jornal The New York Times publicou matéria relatando um levantamento feito pela Agência Federal de Pesquisa e qualidade em saúde dos Estados Unidos, mostrando que a incidência de complicações deste tipo de cirurgia nos EEUU é maior do que se imaginava e chega a acometer até 25% dos pacientes operados, que podem apresentar complicações nos 1os 6 meses após a cirurgia.
Palavras-Chave: Obesidade mórbida – Cirurgia bariátrica – cura do diabetes – cirurgia de obesidade.

Nenhum comentário: